sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Não-possessividade

Aparigraha, quinta norma ética do Yôga, significa não-possessividade. No livro Tratado de Yôga, do Mestre DeRose, há uma descrição sobre esta e as demais normas.

A não possessividade aplica-se aos bens materiais, por um lado. Indicando que um yôgin não deve ser apegado a seus bens materiais, ou muito menos, aos dos outros. Isso não quer dizer que o indivíduo deva desfazer-se de seus bens. Isto inclusive, pode não significar desapego, mas sim apego ao ato de desapegar-se.

Não possessividade em relação aos bens materiais significa que os bens, como o dinheiro, vêm e vão, pois são uma forma de energia. E, assim sendo, deve-se ter sempre esta consciência, não deixando que as posses controlem a sua vida, mas sim o contrário.

Importante lembrar que, mesmo aqueles que dedicam suas vidas a uma causa nobre, devem buscar uma vida digna financeiramente. Esta norma, como indica o referido livro, não é desculpa para que sejamos relapsos com os bens que nos foram confiados para guarda.

No âmbito dos relacionamentos, há toda uma outra complexa aplicação do aparigraha. Muitos pensam que amar e cuidar implica em ter ciúmes e possessividade em relação ao outro. Na verdade, isso pode até ser engraçadinho por um período, mas no longo prazo vêem as dificuldades.

Demonstrações de ciúmes prejudicam a comunicação, podem gerar segredos entre o casal, que afasta-se quanto mais a possessividade é reinante. E assim cria-se um abismo cada vez maior, que pode resultar de diversas maneiras.

Em contrapartida, se há comunicação, e as duas partes entendem toda a humanidade do parceiro com maturidade, utilizando uma visão de maior alcance, a intimidade segue por caminhos mais sólidos. Amar proporcionando liberdade ao parceiro, para viver plenamente a sua jornada, e compartilhando os momentos (ainda que isto signifique perder o ilusório controle sobre ele), é o maior presente que se pode dar.

Em um sentido mais amplo, há de se entender, e este é um desafio de todos nós, os ciclos da vida. É preciso observar as frutas nas árvores, que nascem, vivem, amadurecem, caem e morrem. Simples assim. Com os seres humanos, acontece o mesmo.

Vivendo cada dia com esta consciência de vida e de morte, experienciam-se momentos mais intensos, verdadeiramente valiosos, e quando se atinge a certeza de que a vida não é vivida em vão, o medo da morte, de si mesmo e dos queridos, começa a transformar-se. E assim inicia-se um caminho que não é curto nem tão simples quanto estas palavras.

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